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Writer's pictureMalu Baumgarten

Efêmera

Updated: Jun 24, 2020

Tu, que chegas tarde, benvinda

em teu rosto doce vivem

olhos azuis que ora vejo, ora não

o que vêem esses olhos

quando olham para mim?

Verão a menina que vive aqui dentro?

Medirão os séculos de minha solidão,

estes olhos azuis? O que vêem,

quando cerrados, contemplam

paisagens secretas?

Que queres tu de mim?

Caminharás comigo meu caminho incerto

ou passarás tu também, ignorante

da menina aqui dentro e da besta,

muito mais bela que a Bela?

Reconhecerás a passageira que sou

e comigo passarás, ou te quedarás a chorar meu destino,

como os felizes e os desolados

que nada sabem do que passa dentro?

Abrirás tuas asas sobre meu corpo imperfeito

cantarás tua canção, letra e música

com teus olhos cerrados me verás

e me beijarás com cada nota

beijos de pura harmonia?

Ou como um lindo e efêmero pássaro

pousarás teus pezinhos em minhas costas curvadas

antes de tomar o caminho do sul,

deixando a vaga impressão de uma melodia,

invisível como os corações dos egoístas

que batem palmas no coro dos contentes.

Tu, retardatária, és benvinda

Não tenhas medo, eu não tenho

O medo é meu ninho, nele cresço e dele me levanto,

insistente e forte como a peste,

cada cicatriz em pele mais dura

pele que ainda estremece ao teu toque imaginário.

Então estrangeira, vens para ficar?

Serás tu meu lote terreno, meu lar alado,

minha amante solidária

ou passas ligeira,

como areia em pés caminhantes,

penas na boca de um lindo gato assassino,

uma canção ensaiada e nunca cantada?

Texto e imagens ©Malu Baumgarten - todos os direitos reservados à autora

Words and photography ©Malu Baumgarten - all rights reserved

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