Tu, que chegas tarde, benvinda
em teu rosto doce vivem
olhos azuis que ora vejo, ora não
o que vêem esses olhos
quando olham para mim?
Verão a menina que vive aqui dentro?
Medirão os séculos de minha solidão,
estes olhos azuis? O que vêem,
quando cerrados, contemplam
paisagens secretas?
Que queres tu de mim?
Caminharás comigo meu caminho incerto
ou passarás tu também, ignorante
da menina aqui dentro e da besta,
muito mais bela que a Bela?
Reconhecerás a passageira que sou
e comigo passarás, ou te quedarás a chorar meu destino,
como os felizes e os desolados
que nada sabem do que passa dentro?
Abrirás tuas asas sobre meu corpo imperfeito
cantarás tua canção, letra e música
com teus olhos cerrados me verás
e me beijarás com cada nota
beijos de pura harmonia?
Ou como um lindo e efêmero pássaro
pousarás teus pezinhos em minhas costas curvadas
antes de tomar o caminho do sul,
deixando a vaga impressão de uma melodia,
invisível como os corações dos egoístas
que batem palmas no coro dos contentes.
Tu, retardatária, és benvinda
Não tenhas medo, eu não tenho
O medo é meu ninho, nele cresço e dele me levanto,
insistente e forte como a peste,
cada cicatriz em pele mais dura
pele que ainda estremece ao teu toque imaginário.
Então estrangeira, vens para ficar?
Serás tu meu lote terreno, meu lar alado,
minha amante solidária
ou passas ligeira,
como areia em pés caminhantes,
penas na boca de um lindo gato assassino,
uma canção ensaiada e nunca cantada?
Texto e imagens ©Malu Baumgarten - todos os direitos reservados à autora
Words and photography ©Malu Baumgarten - all rights reserved
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